sexta-feira, 30 de julho de 2010

Como será. Quem será esta pessoa que em noventa ou cem anos á partir deste exato momento, olhando pra esta mesma parede, um dia imaginará que eu, com meus olhos vivos aqui estava á pensar, e que assim como ela também tinha o coração apertado e a ilusão que se tinha muito tempo e que era infinito, que era pra sempre? Serão estas paredes as mesmas em cem anos?
Penso que o mundo é cíclico e isto um pouco me assusta. Meu avô, hoje internado em um quarto de hospital clamando por sua mãe como quando criança, um touro de coração inatingível por toda a vida criança de novo se encontra. E assim como meu avô, o avô de seu avô, e todos os avôs do mundo que antes de partirem também olharam pra alguma parede e se questionaram, e envelheceram, e por aqui não ficaram.
Se olharmos de perto, não vai fazer sentido. Não vai. Por isto mesmo é que eu quero gritar, correr, sentir o vento na cara. Experienciar o que é mais intenso. Amar. Sentir-me impotente perante este coração que insiste em mandar apesar de parecer fraco, pra que um dia mais á frente quando olhar para a mesma parede ela se torne uma tela de cinema e nela tenha minhas lembranças para projetar.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

tudo que me falta é o tempo
eu
que venero esta cidade grande
e ela me engole!
me torna escasso e
distancia, distância
á qual eu não me adapto
não me motorizo!
o tempo,
que á princípio parece infinito
é o que mais me pressiona
dentro de sua escassez
não consigo ser inteiro
faltam partes minhas
cada amigo fica com um braço
uma perna
um dedão
o meu coração
espero que todos entendam
é onipresente
carente
não tenho opção
não vivo somente de mim
tudo que está fora também me leva
e só se engana quem pensa que é dono de si!
vou continuar aqui
escrevendo estes versos cafonas
que até que arranje
meios melhores
são a tentativa
mais próxima
de me tornar mais
inteiro

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Foi quando atravessando a rua
como mariposa se atraiu á luz do
neon piscante do lugar decadente
e pensou
como o falho e inconstante
lhe chamavam mais atenção
havia um certo magnetismo
naquela luz que por falta de força piscava
com medo
percebeu que poderia
facilmente escolher o caminho mais árduo
atraído pela beleza
da tristeza
e a estética do árido
seu coração já não mais lhe
pertencia
e tudo que podia ver era sua
própria sombra
projetada na calçada suja
cada vez que aquela luz piscava