segunda-feira, 22 de junho de 2009

Raspei minha barba. Quero uma carinha mais limpa esta semana.
Três da madrugada e estava plantado encarando meu monitor. Sono, nenhum. Dormi das dezessete ás vinte horas do Domingo tentando assistir A Troca com a Angelina Jolie. Levantei, peguei a máquina e tchau pêlos. Agora, pele de bebê, independente dos vincos que já me marcam. Paro em frente ao espelho rachado do banheiro e me olho durante uns três minutos. Quem sou eu agora?

Talvez meu ímpeto de extermínio das estruturas capilares deveu-se ao fato de no mesmo dia, á tarde, ter ido visitar o A....aiaiai o Al...ai o Al....(como já disse ele não quer seu nome por aí...) no hospital. Entrei, o quarto em silêncio, televisão desligada, a outra cama vazia, colchão sem lençol. Ele estava de pé, alongando-se com a ajuda da estrutura alta da cama. Eu estava ansioso por abraçá-lo, mas me enrosquei em minha falta de logística para colocar um avental, luvas, tirar a mochila, lavar as mãos, antes de chegar até ele, e certamente não nesta ordem. Eu estava com minha máquina de cortar cabelo, com a qual aparo minha barba semanalmente. Ás vezes me arrisco a fazer o pé do meu próprio cabelo com dois espelhos, um de frente pro outro, o que exige um controle á mais dos meus gestos. Tudo feito ao contrário do normal, do avesso.
Quando nosso amigo Beto entrou no quarto, também enroscado no avental, já estava ele sentado de frente ao espelho do banheiro, arrancado da parede e agora em suas mãos e apoiado no seu colo, e eu, dando uma de cabeleireiro, ou barbeiro, passando a máquina dois por toda sua cabeça. Fiquei com medo, travei no início. O que menos se precisa quando se está internado é uma auto-estima diminuída por um cabelo cheio de buracos. Achei de extrema importância caprichar. De acordo com o Beto a cena foi bem bonita. Ficou tocado com o que um simples procedimento ás vezes demonstra. Apesar da nossa discussão de como se devia fazer, como não deixar buracos, ou como eu era lerdo ou como sou atrapalhado há de se concordar que há de haver confiança em se entregar, ou somente o seu cabelo, á alguém. Por trás dos gênios envolvidos, são em cenas como esta que se percebe a sutileza de alguns sentimentos.

Hoje, Segunda, saí mais cedo do trabalho. Decidi visitá-lo novamente, desta vez sem avisar. Corri como um louco e cheguei faltando meia hora pra encerrar o horário de visitas. Percorri rapidamente os corredores imensos e cheios de quartos, lavei as mãos, tirei a mochila, coloquei o avental e as luvas, desta vez na ordem certa. Cheguei, ele cochilava, descoberto, os livros de Direito abertos ao lado da cama em cima da mesa, todo encolhido. Fiquei olhando por alguns segundos. Algo me toca quando vejo um homem de vinte e nove anos voltar a ser bebê. E como em transmissão de pensamento ele abriu os olhos, olhou, e sorriu. Conversamos, um monte. Passou o horário de ir embora e nenhuma enfermeira chefe alemã veio encher o saco. Conversamos sobre algumas viagens, sobre a multa que levei por alta velocidade em Nevada. Sim, ele acha que eu deveria ter fugido dos policiais e entrar com o carro no meio do deserto, acredite. Conversamos sobre nossa falta de atenção em frente ao portão do tão esperado vôo para o Hawaii, que foi embora e nos deixou! Eu, como sempre, culpado. Rimos muito. Ele é uma festa para as enfermeiras, todas o adoram e além de darem showzinhos de dança e contarem piadinhas ainda pedem consulta jurídica. Uma porque quer se divorciar, outra porque acha que não recebe adequadamente do hospital, enquanto ele tenta convencê-las de que são muito sortudas dele estar lá e de que não há paciente mais agradável que ele. A vida é assim, um sempre acaba ajudando o outro no que pode, e uns com um dom especial de transformar ansiedade e espera em risos. É engraçado, e fascinante.

Tenho andado tanto estes dias que meus pés estão abertos, rachados. Não consigo andar de tanta dor. Acabo jogando o peso na parte lateral externa dos pés, andando com os joelhos um pouco abertos, como que juntando o rebanho, como diz minha amiga Rosana ou Jo Ross (nome artístico dentro da empresa), que não pára de ficar grávida. Eu já acho que fico parecendo a menina do Exorcista e só falta sair andando de quatro, virado ao contrário e vomitando verde.

Hoje malhei rápido no fim da longa tarde, e a bike, que gosto tanto, ah...que fique pra amanhã. Sem energia. Só pensava em comer. Como estou comendo, meu Deus. Acabei com um pote de Nutella Sábado á noite, quase vomitei no Domingo de manhã com tanta gordura no fígado, dor de cabeça o dia inteiro, até hoje á tarde quando decidi tomar um remédio. Todos pensando que eu estava de ressaca e que fui pra esbórnia, mas meu único pegado foi o da gula.
Amanhã, o tão esperado dia pra assistir A Alma Imoral. Dois ingressos comprados há mais de um mês. Um para mim,o outro para o leãozinho. Mas tudo bem, não se pode ter tudo na vida. Aliás, falando em teatro, no Sábado assisti Turismo Infinito, baseado em poemas de Fernando Pessoa e seus heteronômios, interpretados por um grupo FANTÁSTICO português. Tenho que confessar que, apesar da interpretação absurdamente boa e da beleza estética de todo o espetáculo, ás vezes não me continha e não conseguia abstrair aquele sotaque. Meigo, bonitinho que dói, mas muitas vezes tão engraçado! Antes do espetáculo, do lado de fora do teatro, um grupo de dança contemporânea fazia um show de improvisação. Minha vontade era de tirar a roupa e me enfiar no meio do grupo, pois a música convidava e Dionísio também, só faltou um empurrãozinho de Baco e uma taça de vinho. Quando adentramos o espaço logo veio uma bonita menina loira e franzina em nossa direção, correndo, batendo suas “asas” que nem passarinho. Passou por nós dois, eu e Cícera, fez um biquinho como se fosse dar um piozinho, e saiu pela rua “voando”. Mais tarde, ao fim da apresentação, descobrimos que era a chefe do grupo. As crianças...ah! As crianças! Que facilidade elas tem pra fazer o que querem. Pois não é que um menino de uns cinco anos entrou no meio do povo e dançou, dançou, e dançou livremente até o fim do espetáculo?!

Vou aproveitar que ainda é antes da meia-noite e já estou de pijama azul. Vou tentar a incrível façanha de dormir antes do relógio virar os seus quatro zeros.

2 comentários:

Eugenio disse...

Adorei. NY, acabei de chegar de um jantar no Gema com uma personalidade incrivel. Noite silenciosa aqui e uma certa tranquilidade em cada linha. Volto a dizer... adorei! Valeu cada letra!

Rodrigo Vieira disse...

Que delícia. Noite de verão em NYC, adooooro. Agora falta falar da personalidade incrível! Solta aí, vai! =D